Eu enfrentava muitos desafios em estabelecer diálogo e frequentemente me sentia ofendida com a expressão das pessoas. Pela indicação de uma amiga, fui a um evento de Comunicação Não-Violenta. Na ocasião fui apresentada pelo Dominic Barter à essa prática de troca de escuta, com foco em desvendar as necessidades humanas existentes por trás das palavras. Experienciei algo que me modificou radicalmente. Até então eu compreendia que a violência era atrelada à força física, mas quando expandiu minha compreensão de outras camadas, vi como violar a vontade do outro também é violência. Me reconheci violenta... Observei que mesmo com palavras articuladas e sem aumentar o tom de voz, eu exigia que as minhas estratégias favoritas fossem acolhidas, acolhidas não, engolidas goela abaixo. A escuta com esse potencial empático me possibilitou reconhecer a reprodução dessa estrutura de poder. Hoje vejo que essa dinâmica não serve a vida. Viver isso me inspirou a ter uma ação intencional deliberada de testar a troca de escuta.
Eu passei a frequentar eventos de introdução a prática e jornadas de continuidade oferecidas na Casa do Povo por um povo amado… Nessas ocasiões eu trocava contato, combinava trocar. Jornada após jornada, aos poucos fui colecionando pares e tecendo lentamente uma rede de pessoas. Pessoas que tinham em comum a vontade em fazer esse exercício, essa pesquisa.... ao longo do tempo nós construímos confiança mútua de apoio. Assim foi o processo de construção da REDE que me apoia. Na companhia de outras tantas praticantes aprendizes como eu, nos organizamos para oferecer escuta umas às outras buscando descobrir através da observação quais necessidades latentes na relação com as pessoas. Para me sentir capaz de ouvir, para além dos julgamentos que permeiam meus pensamentos, com o foco nas necessidades humanas. A partir daquilo que experiencio, mapeio as estratégias que me cuidam, na companhia de pessoas com disposição de ouvir como eu me sinto de verdade… e com quem me disponho a ouvir como ela se sente. Esse sistema me apoia na intenção de me manter íntegra e autêntica. Atualmente é uma das estratégia de apoio que sustentam desenvolvimento do espaço de aprendizagem com princípios e práticas pedagógicas pensadas a partir de um olhar co-construtivo e dialógico: o Laboratório de Práticas Dialógicas.

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